O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15) que autorizou operações secretas da CIA na Venezuela e estuda ataques terrestres contra cartéis de drogas. A medida é interpretada como um novo passo na ofensiva americana contra o regime de Nicolás Maduro.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal The New York Times, o objetivo final seria enfraquecer o governo venezuelano e promover a queda de Maduro.
Movimentação militar no Caribe
Desde agosto, os EUA vêm reforçando sua presença militar no sul do Caribe, com oito navios de guerra, um submarino nuclear e centenas de soldados. O governo norte-americano justifica a ação como parte de uma operação de combate ao tráfico internacional de drogas, alegando que embarcações venezuelanas transportam entorpecentes para os Estados Unidos.
Trump afirmou que as operações da CIA são uma questão de segurança nacional, dizendo que o país vizinho envia “drogas e criminosos” aos EUA.
“Cada barco que destruímos salva 25 mil vidas de americanos”, declarou o presidente. “Temos o mar sob controle e estamos avaliando ações por terra.”
Bombardeiros próximos ao território venezuelano
No mesmo dia do anúncio, três bombardeiros B-52 sobrevoaram uma região próxima à Venezuela. O modelo, capaz de transportar armamento nuclear e voar mais de 14 mil quilômetros sem reabastecer, representa uma demonstração de força dos EUA.
Para o cientista político Maurício Santoro, do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, a ação tem duplo sentido:
“É uma provocação política e também um treinamento militar. Pode ser um ensaio para futuros bombardeios e um teste das defesas aéreas venezuelanas.”
Imagens do site FlightRadar mostraram que a rota dos aviões desenhava uma figura obscena — o que, segundo Santoro, pode fazer parte de uma estratégia de guerra psicológica.
Reação de Maduro
O presidente Nicolás Maduro classificou as ações americanas como uma tentativa de “golpe da CIA”. Em discurso, afirmou que o povo venezuelano rejeita qualquer intervenção estrangeira:
“Chega de golpes da CIA. Não à mudança de regime, que já destruiu nações como Iraque e Líbia.”
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela também repudiou as declarações de Trump, chamando-as de “belicistas e extravagantes” e acusando Washington de tentar legitimar uma operação para se apropriar do petróleo venezuelano.
O que está por trás da crise
De acordo com Santoro, o avanço militar e o envolvimento direto da CIA sugerem uma possível operação político-militar para derrubar Maduro.
Além de razões geopolíticas, há interesse estratégico nas reservas de petróleo e minérios da Venezuela, as maiores do mundo, estimadas em 302,3 bilhões de barris, segundo o Relatório Mundial de Energia de 2025.
“Os Estados Unidos estão diante de uma decisão crítica. Se realmente partirem para uma ação de larga escala, será a primeira vez que atacam militarmente um país da América do Sul”, avalia o especialista.
Operações no Caribe e denúncias internacionais
Nos últimos meses, os EUA bombardearam embarcações que, segundo o governo, estariam ligadas ao narcotráfico. Em uma das ações mais recentes, seis pessoas morreram. Trump afirmou que o alvo fazia parte de uma “rede de narcoterrorismo”.
Entidades como a Human Rights Watch condenaram os ataques, classificando-os como “execuções extrajudiciais ilegais”. O tema chegou ao Conselho de Segurança da ONU, que demonstrou preocupação com a escalada militar na região.
O governo venezuelano, por sua vez, acusa Washington de matar pescadores inocentes e pede uma investigação internacional.
Relações em ruínas
As relações entre Estados Unidos e Venezuela se deterioram há anos. Washington não reconhece o governo de Maduro, impôs sanções econômicas severas e acusa o presidente venezuelano de liderar o Cartel de los Soles, grupo apontado como envolvido no tráfico internacional de drogas — embora pesquisadores afirmem que a organização não exista de forma estruturada.
Enquanto as operações secretas da CIA seguem envoltas em mistério, o cenário indica que o confronto diplomático e militar entre Caracas e Washington está prestes a atingir seu ponto mais tenso em décadas.
Fonte: G1