Uma nova e chocante denúncia surgiu no caso da creche particular investigada por maus-tratos no bairro Solo Sagrado, em São José do Rio Preto (SP). Uma mãe de 24 anos relatou à polícia na segunda-feira (15) que sua filha, de apenas dez meses, aparece em um vídeo supostamente comendo fezes enquanto estava sob os cuidados da instituição.
Assim como no primeiro caso divulgado, a mãe recebeu um alerta de uma ex-funcionária por meio de um bilhete, desta vez escondido dentro de uma vasilha de lanche.
Vídeo revela negligência e xingamentos
O vídeo, entregue à polícia e obtido pela reportagem, mostra a bebê com as mãos sujas de fezes enquanto outras crianças choram ao fundo. Na gravação, uma voz atribuída à proprietária da creche narra a situação de forma agressiva, reclamando da sobrecarga e xingando funcionárias que faltaram ao trabalho.
“Eu preciso de alguém aqui para me socorrer, cagado, comendo bosta, tudo atrás de mim… porque nenhuma ‘maldita’, ‘desgraçada’, veio trabalhar hoje”, diz a mulher no vídeo.
A mãe, que se mudou de outro estado e não possui rede de apoio na cidade, desabafou sobre o sentimento de culpa por ter deixado a filha no local para poder trabalhar. “Me senti um lixo. Eu me revoltei, surtei quando vi minha filha comendo fezes”, lamentou.
Irregularidades administrativas e inquérito
A investigação tomou proporções maiores: o número de mães que procuraram a delegacia subiu para pelo menos dez. O delegado Amaury Scheffer de Oliveira Junior confirmou a instauração de um inquérito policial por maus-tratos.
Além das denúncias criminais, a Secretaria Municipal da Fazenda informou que a creche não possui licença para funcionamento. O pedido de alvará foi indeferido porque a empresa tentou se registrar como serviço de “entretenimento infantil”, mas a fiscalização constatou que o local funciona efetivamente como creche, exigindo adequações que ainda não foram feitas. O prazo para regularização termina na próxima segunda-feira (22), sob risco de multa e lacração.
O que diz a direção da creche
Em nota, a direção afirmou que o vídeo da criança com as fezes foi um “registro privado” feito em um momento de “extremo estresse” e enviado a um grupo restrito para pedir “socorro administrativo”. A defesa alega que as imagens foram divulgadas fora de contexto por ex-funcionárias e nega que qualquer criança tenha sofrido violência ou maus-tratos reiterados. A nota ainda afirma que medidas judiciais estão sendo tomadas contra a exposição das imagens.
