Por Evandro Moretti
Se Jesus aparecesse hoje no Brasil, dificilmente caberia dentro do rótulo “evangélico” como ele se tornou conhecido — institucionalizado, partidário, moralista seletivo e profundamente marcado por disputas de poder. A figura de Cristo apresentada nos evangelhos é, na verdade, um rompimento com qualquer sistema religioso que aprisiona, lucra com a fé ou transforma Deus em propriedade privada.
O Jesus das Escrituras não carregava bandeiras partidárias, não declarava apoio a políticos, não fazia alianças com poderosos para manter influência e não ensinava seus discípulos a definir quem “merece” ou “não merece” ser amado. Ele denunciava a hipocrisia religiosa, confrontava líderes que exploravam o povo e colocava a misericórdia acima da letra fria da lei.
Se olharmos para os movimentos religiosos atuais, veremos exatamente o que ele combateu: templos transformados em centros de lucro; líderes que se comportam como celebridades; seguidores ensinados a odiar em nome de Deus; e uma espiritualidade reduzida a campanhas, votos e barganhas com o céu. Tudo isso está muito distante do carpinteiro que andou entre os pobres, tocou enfermos, libertou oprimidos e anunciou um Reino que não se sustenta em estruturas humanas.
Jesus não seria evangélico brasileiro porque ele não caberia na disputa por relevância, nos púlpitos que valem mais que pessoas, nem na “fé” que escolhe quem merece compaixão. Ele chamaria nossos templos de mercados, nossos líderes de guias cegos e nossos seguidores de pecadores amados — assim como fez no primeiro século.
Talvez a pergunta mais desconfortável seja esta: se Jesus voltasse hoje, será que nós o reconheceríamos? Ou o expulsaríamos das nossas igrejas por não seguir nossas regras, nossa agenda e nossa versão conveniente do evangelho?
Seguimos chamando muitas coisas de “evangélicas”. Mas é urgente admitir: poucas delas lembram Jesus.
