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E agora, Zezé [di Camargo]?

por Rafael Zago

 

Na última segunda-feira (15) o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), emissora fundada por Senor Abravael, mais conhecido por Sílvio Santos, inaugurou seu mais novo canal: o SBT News. Uma vertente do SBT voltada ao jornalismo profissional, obviamente que com intuito de disputar espaço e concorrer com outros diversos canais do segmento, como Globo News e CNN. Na ocasião, como é de costume em eventos deste nível, estiveram presentes autoridades nacionais, dentre elas, o atual Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice-Presidente Geraldo Alckmin, representando o Poder Executivo, o então Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, representando o Poder Judiciário, o Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o Prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, entre tantas outras convidadas para a cerimônia. Na ocasião, fora dado espaço de fala para que as autoridades pudessem se expressar livremente durante a inauguração.

 

É sabido que, no Brasil, toda emissora de televisão trata-se de uma concessão pública, motivo pelo qual, na maioria das vezes, os diálogos entre os concessionários e o governo são estreitos, como quando representantes dos poderes são convidados para eventos desta natureza, o que não era diferente quando se tratava de Sílvio Santos. Sílvio Santos sempre manteve proximidade junto aos Presidentes da República, inclusive desprendendo espaço em sua televisão e incluindo-os em sua programação para entrevistas, explanações sobre a situação do governo à época ou até mesmo realizar um bate-papo descontraído com os Chefes do Executivo Nacional. De Médici à Bolsonaro, Sílvio Santos manteve proximidade com todos, movido pela diplomacia que um dono de emissora, gestor de uma concessão pública, deveria ter para com os chefes de Governo.

 

Não precisa ir muito longe: basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar diversas fotos de Sílvio Santos ao lado dos ex-Presidentes da República, bem como do atual mandatário, em seu governo anterior. Fotos estas que, após a inauguração do SBT News, voltaram à mídia por conta da recente “indignação”, ora descabida, dos aliados do ex-Presidente Jair Bolsonaro, que pareciam acreditar que o único Presidente com quem Sílvio mantivera contato fora o ex-Presidente Bolsonaro. A falta de interesse em realizar uma breve pesquisa promove a ignorância bolsonarista de acreditar que o apresentador de TV Sílvio Santos, falecido em 17 de agosto do ano passado, teria lealdade e fidelidade política à Jair Bolsonaro.

 

Sílvio Santos, para o descontentamento da direita brasileira que nos últimos dias demonstra desconhecer a história do apresentador, desde que surgiu na televisão, sempre teve lealdade e fidelidade apenas a uma única causa: a concessão pública da sua TV. E, por ela, manteve proximidade com todos os governantes brasileiros, a fim de não prejudicar seus negócios. Por mais que Sílvio pudesse, em algum momento, ter exposto suas opiniões políticas publicamente, afinal, ele era um ser político como qualquer outro ser humano, ele nunca permitiu que suas opiniões ou aspirações políticas substituíssem ou atrapalhassem o seu interesse em manter sua emissora no ar. Sílvio sempre foi um ser “político”, tendo até lançado candidatura à Presidência da República em 1989, que não ocorreu porque a sigla onde pretendia se eleger não havia cumprido com a Lei Eleitoral vigente. E, por ser “político”, sempre soube caminhar ao lado da razão por entender que a “política” afetava diretamente seu propósito comercial.

 

Sílvio já esteve no Gabinete da Presidência da República, conversando diretamente com o atual Presidente Lula, conversa esta que provavelmente ocorreria na inauguração do SBT News, de maneira muito próxima e amigável, se estivesse vivo. Este “legado” de manter uma boa relação com os Presidentes da República, pelo que pode ser conferido na cerimônia, foi uma das heranças que as Abravanel decidiram seguir de seu pai.

 

A ignorância política na qual o brasileiro encontra-se afogado, a ponto de criticar a postura e a atual gestão do SBT por manter a mesma proximidade que Sílvio sempre manteve junto aos governantes, é prova da ‘doença’ que se tornou a lateralidade política nas terras tupiniquins.  A discussão política feita por quem nunca estudou sequer uma linha do tema e desconhece a história fez com que os brasileiros perdessem a timidez ao demonstrar o notório desconhecimento sobre qualquer assunto publicamente. A ignorância, somada à desonestidade intelectual, fizeram o brasileiro acreditar ser “expert” em qualquer área, dominando e opinando livremente sobre tudo sem nenhum fundamento ou embasamento, confrontando pesquisadores e opiniões científicas com achismos e argumentação rasa, negando os fatos dos quais não concorda ou contrariam seus confortáveis pontos de vista, criando uma era guiada por “influencers” que, movidos pela popularidade das atrocidades que produzem de conteúdo virtual, com as quais a maioria acaba se identificando, profanando a política e elegendo uma geração de parlamentares ignóbeis que infestam a ala irracional de nosso Legislativo.

 

Essa ignorância se firma e se legitima quando as más tendências dos “influencers” – que, no final, só influenciam os ignorantes pois não possuem conhecimento suficiente para transmitir algo que possa exercer influência propriamente dita – são endossadas e pulverizadas por personalidades ou celebridades com certo destaque na comunidade. Como foi o caso da pífia manifestação do cantor sertanejo Zezé di Camargo logo após a inauguração do SBT News, a respeito de sua “percepção” sobre a cerimônia. Agindo como um “influencer”, o cantor sertanejo destilou ódio em forma de indignação pelas filhas de Sílvio Santos, chegando a utilizar termos pejorativos, quando por exemplo disse que “estariam se prostituindo” para classificar a forma como ele acredita que elas estejam administrando a empresa deixada pelo falecido apresentador de TV. Zezé di Camargo, que tinha um Especial de Natal gravado junto à emissora, o qual seria transmitido no próximo dia 17, pediu inclusive para que a emissora não transmitisse pois não concordava com, segundo ele, o que elas estariam fazendo com o SBT.

 

O vídeo, publicado diretamente no Instagram de Zezé di Camargo, pode ser conferido clicando aqui: https://www.instagram.com/p/DSRSPCCDPvy/

 

O que Zezé di Camargo se esqueceu é que, quem vive apenas de “parlar”, mesmo que seja para falar bobagens impensadas ou ilógicas, são os atuais influenciadores que se elegem “parlamentares”. Um influenciador tecer comentários pejorativos a uma emissora de televisão que, em sua concepção pessoal, faz oposição à sua identidade política, não traz efeitos nocivo para sua vida pública, política ou pessoal, já que a maioria dos influenciadores brasileiros, em especial aqueles que são eleitos, vivem de dizer aquilo que pensam, muitas das vezes sem base ou filtro, pois o nicho que pretendem alcançar é exatamente o de pessoas em que há paridade cognitiva e moral. Diferente, por exemplo, de um artista, que pretende – ou deveria pretender – que sua arte alcance a todos indistintamente, seja de esquerda ou direita, pois o  importante para o artista é vender seu material e atingir o sucesso através da fama, que não escolhe lado político. Aliás, enquanto animador de TV, artista e dono de emissora, Sílvio Santos entendia bastante o que isso significava e aplicou tal premissa em sua vida profissional.

 

Zezé di Camargo não vive e nunca viveu do que fala, mas do que um dia cantou, e parece ter faltado a essa “aula” de Sílvio Santos. O espaço para quem é artista está justamente nos palcos das emissoras de TV, visto que a internet não faz o mesmo filtro que um diretor artístico de programas de TV, que trabalha para oferecer aos telespectadores em suas grades o que a mídia conceitua como o melhor a se apresentar. Na internet você vê “de tudo”. Na TV você vê o melhor, e inclusive, o melhor da internet. E é na TV que se produzem os artistas para o comércio. Zezé di Camargo nunca teria tido a fama que usufruiu durante seu tempo áureo se não fosse pela oportunidade na TV. E, mesmo atualmente a TV perdendo espaço para as redes sociais, é fato que ainda exerça significativa influência quando se trata de consolidar credibilidade, notoriedade e popularidade, inclusive à nível nacional. Mesmo aquele artista que já “viralizou” nas redes sociais, apenas quando seu trabalho é divulgado na TV, que se estabelece maior notoriedade e solidifica a credibilidade em sua carreira. A internet pode até revelar talentos no mundo atual, mas a TV ainda é a grande responsável por impulsionar carreiras.

 

Aliás, se Zezé di Camargo dependesse exclusivamente da internet, talvez o seu Especial de Natal não teria audiência alguma, visto que raramente as pessoas assistem programas inteiros pelas redes sociais, preferindo pelos vídeos curtos e rápidos, pequenos cortes de até três minutos, comuns no TikTok ou Reels do Instagram. O público de Zezé di Camargo é exatamente o que ainda se entrega ao prazer de assistir a TV aberta, já que a nova geração mal sabe quem é Zezé di Camargo. Se Zezé ainda fosse um artista que, desde o começo de sua carreira, trabalhasse em suas canções letras que pudessem indicar sua afinidade política ou militância, talvez faria sentido discursar contra uma emissora de TV que havia acabado de gravar um Especial de Natal que lhe reconduziria às telas das quais ele já anda afastado há um tempo considerável. Zezé acaba de jogar para o alto uma ótima oportunidade de reaproximação com seu público, afinal, já fazia um tempo que não víamos seu rosto – e sua voz – na TV. E, para piorar, conseguiu dividi-lo.

 

Por um momento eu poderia pensar se tratar de uma estratégia para lhe “atrair os holofotes”, já que provavelmente seu Especial de Natal no SBT não lhe garantiria a mesma publicidade que está recebendo por criticar a cerimônia do SBT News. Se era este o objetivo da atuação dramática de Zezé di Camargo no vídeo que publicou ontem, a equipe de marketing está “de parabéns”. Conseguiram reconduzir Zezé às manchetes sem que ele precisasse sequer cantar uma única canção. É o famoso “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. Pode ser que Zezé di Camargo já esteja sentindo a idade chegar, e com ela, o fim de sua carreira, que há muito já foi substituída pelos novos nomes da música sertaneja universitária. A maioria dos jovens, aliás, só conhecem Zezé di Camargo, ou melhor dizendo, suas canções, quando interpretadas pelos recentes artistas do meio sertanejo. Então, quem sabe, Zezé di Camargo não está apenas aproveitando o momento para copiar seu colega de profissão, Sérgio Reis, e tentar uma vaga no Congresso, já que, pelo jeito, prefere enfrentar donos de emissora de TV e governantes do que os palcos.

 

Se algum dia Zezé di Camargo pensava em homenagear Sílvio Santos, ele escolheu a pior das maneira de fazê-lo. Além de criticar a família do falecido apresentador, que sempre foi seu mais profundo orgulho, provou que o desconhece em todos os sentidos, já que Sílvio sempre soube distinguir categoricamente sua atuação como homem de negócios e gestor de uma concessão pública do artista que animava os programas dominicais. Sílvio nunca jogaria fora sua carreira a troco de melindre político. E é por isso que Sílvio Santos foi quem conhecemos, chegou onde sabemos, construiu o que vemos e deixou o legado que reconhecemos.

 

A história de Sílvio Santos jamais se confundiria à de Zezé di Camargo, e com a tentativa torpe de pejorar a atual administração do SBT, o cantor sertanejo expôs seu nome à imprensa da maneira mais infame possível, pois com a sua recente exposição, não como músico artista, mas como “influenciador político”, posição de quem se dá créditos para atirar pedras, se colocou na condição de vidraça na mesma intensidade, e sua vida pessoal tem sido alvo de pesquisas, seu passado consultado, suas más tendências explanadas, como é o caso de infidelidade envolvendo sua relação com a influenciadora Graciele Lacerda, que culminou no fim da dupla Zezé di Camargo & Luciano pois seu irmão Luciano teria se desentendido com o cantor durante uma apresentação no Teatro Guaíra, em Curitiba, após Zezé di Camargo, que ainda era casado com Zilu Godói, ter levado a amante no evento, como revelou o colunista Hedmilton Rodrigues à redação da Rádio Aruanã FM de Barra dos Garças/MT¹. Desde então, Luciano teria rompido a dupla e passado a atuar em carreira solo na música gospel.

 

Enquanto isso, Zezé di Camargo, que ama tanto uma influenciadora a ponto de praticar o adultério, coisa da qual aparentemente não lhe causa tanta vergonha ou indignação, acabou preferindo agir como “influencer” nas redes sociais, demonstrando indignação e vergonha apenas pela cerimônia do SBT News, preferindo externar sua opinião política do que ter seu Especial de Natal transmitido no SBT. Não me surpreenderia caso surgisse, nos próximos dias, o convite para lançar sua candidatura ao Congresso pelo partido do ex-Presidente que apoiou em 2018², e que hoje está preso por atentar contra a soberania nacional, mas que isso aparenta não lhe causar asco algum.

 

Há quem aprove este discurso inflamado de Zezé di “Carvalho” [em referência a Olavo de Carvalho, o falecido ‘guru’ dos bolsonaristas], mesmo naufragado em mentiras e devaneios sobre quem realmente foi Sílvio Santos e sobre a atual gestão do SBT. Um discurso inconsequente e alienado. Nada de novo no front da disseminação de ignorância com pouca eloquência, somada à desonestidade intelectual, que é costumeira da direita brasileira, em especial do bolsonarismo, com a única diferença que neste caso o discurso provém de um prestigiado artista e atinge projeção nacional. Particularmente prefiro o Zezé apenas cantando, apesar de ultimamente já ter flagrado algumas apresentações dele com baixa desenvoltura vocal, o que me faz repensar se ainda gostaria de, hoje em dia, vê-lo cantar. Mas, consigo separar o artista e sua renomada carreira [que ele insiste em depredar] da sua opinião política imatura e insensata. Por isso, não lhe garanto meu voto. Logo, se não for para tê-lo cantando, é melhor que continue em silêncio.

 

A forma fútil e inconsequente como Zezé di Camargo “jogou fora” a oportunidade de voltar à TV com seu Especial de Natal já gravado e iminente de ir ao ar me fez lembrar o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, “José”:

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho do mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?  [Grifo nosso]

 

Fontes:

¹Colunista expõe relação extraconjugal de Zezé di Camargo: https://aruanafm.com.br/exclusivo-colunista-revela-o-verdadeiro-motivo-da-briga-entre-zeze-di-camargo-e-luciano/

²Zezé di Camargo faz campanha a Jair Bolsonaro: https://www.youtube.com/watch?v=tv7INZ73O5k

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