O tradutor audiovisual Matheus Maggi Waltrick, de 30 anos, morador de Birigui (SP), é o responsável pelas legendas em português do sucesso mundial “KPop Demon Hunters” – ou Guerreiras do K-Pop –, o filme mais assistido da história da Netflix.
A animação musical, lançada no fim de junho, ultrapassou a marca de 236 milhões de visualizações, superando o longa “Alerta Vermelho” (2021). Para que o público brasileiro pudesse curtir o fenômeno coreano, foi preciso adaptar expressões, piadas e termos culturais — trabalho que ficou nas mãos de Matheus.

Do fansub à Netflix
Em entrevista ao g1, o biriguiense contou que sua trajetória começou em 2013, quando produzia fansubs — legendas voluntárias feitas por fãs.
“Eu sempre gostei de séries dubladas e legendadas. Comecei a associar o que ouvia com o que lia na tela e resolvi me juntar a grupos de legendagem para treinar o inglês”, lembra.
Mesmo cursando Engenharia Civil, Matheus nunca deixou o hobby de lado. Após se formar em 2018, enfrentou dificuldades para trabalhar na área, até que uma amiga o incentivou a participar de testes em agências de legendagem. Ele foi aprovado — e a nova carreira começou.
Primeiros créditos e o sonho realizado
O primeiro projeto profissional veio ainda em 2018.
“Quando vi meu nome nos créditos, foi uma sensação indescritível. Era o sonho se tornando realidade”, conta.
De lá para cá, Matheus participou de grandes produções como How I Met Your Mother, Prison Break, American Horror Story, Cavaleiros do Zodíaco e One Piece.
Sucesso inesperado
Sobre KPop Demon Hunters, o tradutor confessa que não imaginava tamanha repercussão.
“Achei que o filme chamaria atenção entre o público jovem, mas o sucesso foi gigantesco. É incrível ver algo em que trabalhei alcançar tanta gente”, diz.
Agora, Matheus sonha mais alto:
“Espero que o filme seja indicado ao Oscar de Melhor Animação ou Melhor Canção Original. Já traduzi o documentário Professor Polvo, que venceu o Oscar em 2021, então seria mais um sonho realizado.”
Criatividade e bagagem cultural
Matheus conta que o desafio de traduzir não é apenas trocar palavras, mas adaptar o conteúdo de forma que o público brasileiro sinta as mesmas emoções do original.
“Meu objetivo é que o espectador ria, se emocione e reaja como quem assiste na língua original. Às vezes, é preciso recriar trocadilhos, expressões e até simplificar frases para manter o ritmo”, explica.
Fã da cultura coreana e acostumado com traduções indiretas (do inglês para o português), ele diz que isso ajudou a compreender melhor os costumes e o humor presentes na obra.
O trabalho por trás das legendas
Segundo o tradutor, legendar vai muito além de “ouvir e traduzir”:
“Uma boa legenda precisa ser natural, fluida e sincronizada com o som. Ela deve desaparecer aos olhos do público, para que a pessoa esqueça que está lendo.”
O processo envolve técnicas específicas, softwares profissionais e sensibilidade artística — já que o tempo de leitura e o ritmo das cenas também influenciam no resultado final.
Um herói silencioso
Apesar da importância do trabalho, Matheus destaca que a profissão ainda carece de reconhecimento.
“Trabalhamos nos bastidores e, muitas vezes, nem somos creditados. Por isso, quando alguém percebe e valoriza, é muito gratificante. É saber que nosso esforço ajuda o público a se conectar com histórias do mundo inteiro.”
Para ele, cada legenda é parte da narrativa.
“Assim como figurino, fotografia e trilha sonora, a tradução também faz parte da magia do cinema.”